COMUNICADO Nota de Pesar: Julia Zomer Continue Lendo
29/07/2021
Magnes Ferreira lançará a obra, com riqueza de detalhes, dos fatos que vivenciou durante a carreira de escrivão
Conhecer um pouco mais dos bastidores do escrivão de polícia. Esse é o objetivo do livro que será lançado, em breve, pelo escrivão aposentado e bacharel em Direito, Magnes José Ferreira Coelho. Pai de uma filha, casado, o profissional decidiu registrar alguns dos inúmeros fatos vivenciados por ele desde a década de 90, nas delegacias de Mato Grosso, inclusive, na região de fronteira. Faz questão de guardar recortes de jornais com as matérias, Diário Oficial e a prova que o efetivou no serviço público.
O livro, que ainda não recebeu título, já passa das 40 páginas, até o fechamento desta edição, e traz relatos de muitas aventuras, curiosidades, dificuldades e auge da profissão de Magnes, que também contribuiu para a fundação do Sindicato dos Escrivães de Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso – Sindepjuc-MT, sendo o primeiro a compor o Conselho Fiscal, em 1994. Nesta entrevista, um pouco mais sobre a trajetória do aposentado, escrivão, que continua registrando fatos, mas, agora, de maneira leve, numa obra que promete ser imperdível!
Trabalhar na PJC lhe rendeu muitas histórias para contar. A começar pelo dia em que prestou o concurso para a PJC?
Magnes - O primeiro concurso para a PJC foi em 1985. Contudo, entrei no segundo sete anos depois. Muitas histórias desde então. Trabalhei em alguns bancos, onde conheci um policial que me falava sobre a profissão e me passou as coordenadas sobre o concurso que seria realizado. Então, na ânsia pela estabilidade profissional, me inscrevi. No dia da prova, nunca esqueço, chegando no Colégio Liceu Cuiabano, fui abordado por um homem que se apresentou como escrivão e me alertou para eu não me empolgar com o concurso, pois era apenas para efetivar os policiais que já atuavam sem concurso. Fiquei muito desanimado, mas fiz a prova, embora que sem perspectivas de ser chamado, inclusive, fui o primeiro a entrega-la. Depois fiquei no cadastro de reserva, esperei sete pessoas desistirem para conseguir a minha vaga. Se não fosse aquela abordagem, com certeza teria obtido uma nota muito melhor. Importante era que tinha dado certo, estava na PJC. Já na delegacia, de tanto ouvir que era preciso estudar, resolvi enfrentar a batalha para me formar em Direito, pela Unirondon, mesmo em meio às dificuldades, correria, falta de dinheiro. Tinha um sonho de me tornar delegado, tentei uma vez, mas era humanamente impossível concorrer com os jovens que só estudavam, então o sonho não se concretizou.
Como surgiu a ideia de criação do Sindepojuc?
Magnes - Nessa época trabalhava na Delegacia de Roubos e Furtos, quando fui convidado pela escrivã Silbeni Conceição para ajudar a fundar o sindicato. Mas, a vida era muito corrida, só para cumprir cota de inquérito eram mais de 200, então achava complicado assumir mais responsabilidades. Ela me propôs o cargo de conselheiro fiscal, uma forma de ajudar sem comprometer o andamento do meu trabalho. Aceitei o desafio, junto com as pessoas que tiveram coragem para dar o pontapé inicial. Lembro que reuníamos na casa da Silbeni, depois no Sindicato dos Taxistas, e o sindicato foi se consolidando . Embora tudo fosse muito pouco, quase nada de arrecadação, o fechamento era feito com o que tínhamos mesmo, tudo isso por acreditar que daria certo. Valeu muito à pena nosso esforço!
Se sente realizado e tem sugestões de melhorias para o Sindepojuc?
Magnes - Sinto-me realizado com a profissão que escolhi, trabalhei muito e tive uma conduta ilibada, sempre fui uma pessoa justa. Acompanhando o trabalho e sou sindicalizado há muitos anos. Agora, espero resolver o impasse da URV, já dei entrada e falei com o advogado. Também acho que seria bem interessante o envio de cartão de aniversário para os filiados. Coisa simples, mas que enchem de orgulho ao receber um cartão parabenizando pelo aniversário; também informar sobre pesar e realizar confraternizações. Embora, o presidente Juliano Perteson me contou que é difícil reunir para uma confraternização porque têm muitos no interior e, por isso, o sindicato comemora o Dia do Escrivão com sorteio de prêmios. Mas, ser lembrado é bom demais!
Já na delegacia, dentre os inúmeros casos, o que mais marcou?
Magnes - Muitos fatos marcaram e contarei no meu livro. Saía em diligencia a qualquer hora da noite ou de dia. Quase levei uma facada na barriga em Mirassol D´Oeste em ocorrência de briga de família, quem é da área de Segurança Pública sabe o que estou dizendo. Tive um embate com colega da mesma turma, durante o trabalho quando concluía um Boletim de Ocorrência. A forma ríspida em que falou comigo, me desafiando, acabou em desentendimento, causando mal-estar que precisou de muito jogo de cintura para contornar a situação. Por causa disso, a delegada na época chegou a chamar uma viatura, uma veraneio preta e branca, para me encaminhar à Corregedoria, mas sabia da minha índole e recusei a entrar no chiqueirinho do carro, falei que iria no banco atrás, mas no chiqueirinho não! Depois tudo se resolveu da melhor forma graças ao meu trabalho, outros profissionais sabiam da minha honra, fato constatado quando fui convocado para prestar um trabalho na Delegacia Metropolitana de Cuiabá.
Muitos fatos curiosos para contar?
Magnes - Sim, vivenciei muita tensão, tive que separar muitas brigas, passava fome, pois a comida que tínhamos lá na Delegacia de Mirassol D´Oeste, era a que os presos faziam ‘babadas’ que se jogasse na parede pregava, era muito difícil. Salário era pouco e atrasado. Só comia frango quando a galinha da vizinha pulava o muro da delegacia e os presos a pegavam. Tinha também cozido com ossinhos que pegavam no açougue, vivenciei muitas dificuldades.
Enfrentava as diligências e se alimentava mal?
Magnes - Sobra alimentação, lembro que numa diligência, em Santo Antônio de Leverger, a viatura era um fusca que deu problema na estrada, quando chegamos até no local onde havia ocorrido feminicídio, fomos convidados a jantar, mas recusei pois haviam baratas circulando pelo prato. Com isso, o morador do local pegou meu prato, retirou os insetos e comeu como se fosse normal tudo aquilo.
Então, quando vejo alguém reclamando que começou a trabalhar na época da máquina de escrever, achando isso difícil, e eu sei que não é verdade, fico indignado. É isso que me motivou a escrever um livro contando a minha vida nas delegacias. Registrei tantas ocorrências e, agora, quero deixar registrada a minha trajetória.
Região de fronteira era ainda mais emocionante?
Magnes - Todas são, mas presenciei fatos inesquecíveis em Mirassol, onde a delegacia era uma clínica geral, ou seja, tinha casos dos mais variados, como estupro, roubo, homicídio, um local onde o policial aprendia de fato. Um dia pedi licença para cuidar da minha mãe que estava doente em Cuiabá, fui ameaçado de exoneração. Enfrentei a situação, comuniquei na delegacia e estava decidido a ajudar minha mãe, tanto que passei na delegacia de Cáceres, quando fui orientado a permanecer, mas tinha medo de retaliação, sabia que seria perseguido pelo delegado e por isso, não queria voltar a atuar lá. Além da dificuldade financeira e falta de estrutura, ainda tínhamos que enfrentar fatos como esses. Não foi fácil, mas venci!
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