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Fábrica de software revoluciona funcionamento da PJC

19/06/2018

Atualmente, 95% das delegacias utilizam o Geia. Ainda assim, há falta de investimentos em equipe, estrutura e incentivo financeiro

O GEIA é um conjunto de sistemas criado exclusivamente para otimizar o trabalho da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso. Desde que começou a ser implantado em 2011, a rotina nas delegacias e na área administrativa ganhou celeridade e eficiência a criação do Argus e de outros sistemas como o Vinculum e o Cartorium – gestão de procedimentos policiais, que revolucionaram a PJC. Contudo, a equipe  da Fábrica de Software enfrenta muitas dificuldades diante a escassez de investimentos em efetivo, mão de obra qualificada, incentivo financeiro e sobrecarga de trabalho.

Mesmo diante de todo sucesso dos sistemas desenvolvidos pela Fábrica de Software, já que 95% das delegacias o utilizam, a atenção do governo deixa a desejar. A fábrica está instalada em uma pequena sala na sede da Academia de Polícia Judiciária Civil – Acadepol, no bairro São João Del Rey, em Cuiabá. Na equipe, liderada pelo escrivão e gerente da Fábrica de Software, Ricardo Rodrigues Barcelar, apenas dois investigadores e quatro escrivães, sendo que desses, quatro são programadores, incluindo o próprio gerente. Todos têm sobrecarga de trabalho para atender a demanda e não dispõem de nenhum incentivo.

Na semana passada, a diretoria do Sindicato dos Escrivães de Polícia Judiciária Civil – Sindepojuc, esteve no local para conferir o problema. Davi Nogueira (presidente do Sindepojuc), Janaínna Brito (secretária geral) e Osiel Araújo (tesoureiro), conversaram com Barcelar e garantiram solicitar, por meio de ofício à Diretoria Geral da PJC, melhorias ao setor.

Viemos parabenizar toda a equipe pelo excelente trabalho que desenvolve, pois é fato que a Polícia Judiciária Civil está bem dependente do sistema Geia. É uma equipe que enfrenta escassez de investimentos e incentivos. Por isso, vamos cobrar, por meio de ofício, à Diretoria Geral as melhorias, pois mesmo dependente do sistema, a PJC tem sido pouco sensível quanto às dificuldades que essa equipe passa para executar esse importante trabalho”, afirmou Davi Nogueira.

O sindicato reconhece que o sistema é um grande avanço e revolucionou o trabalho nas delegacias. Mas, alerta que sem os investimentos necessários haverá um colapso na rotina da PJC, provocando o retrocesso. “É preciso treinar mais servidores para atuar na Fábrica de Software e valorizar os que estão lá. A PJC tem que ter olhar especial pela importância do trabalho dessa equipe, que trabalha muito mais que as oito horas diárias previstas em lei, inclusive, nos finais de semana e de madrugada para fazer as atualizações e manter o suporte necessário ao sistema”, observou Davi.

Ricardo Barcelar explica que a demanda é muito grande para uma equipe tão reduzida. O ideal, segundo ele, seria a disponibilização de mão de obra qualificada. “A demanda é muito grande aqui. Sempre recebemos ofícios nos solicitando serviços, mas é humanamente impossível atender a todos. Não temos equipe treinada para nos substituir nas férias ou ajudar no dia a dia. Precisamos completar a equipe com pelo menos mais um analista de sistema, dois programadores e um DBA (Administrador de Banco de Dados). Além disso, temos terceiros que consomem nossos dados e a solução já tem sido exportada para outros estados, como Rondônia, destacou o gerente.

Afirmou ainda que existe uma grande dificuldade de se encontrar tais profissionais na instituição. O que fazemos é identificar servidores com perfil adequado, preferencialmente com formação na área e capacitá-lo, no entanto, a curva de aprendizado nessa área é bastante tênue. “Além disso é provável que a forma pela qual hoje desenvolvemos os sistemas, daqui a um tempo vai ficar desatualizada. Hoje, muitas soluções já têm sido migradas para um modelo de microserviços, isso significa que lá na frente vamos ter que migrar a tecnologia, mas com esse efetivo é humanamente impossível se pensar nisso. Outro fator é a questão do projeto do sistema antes de implementá-lo. Temos uma grande dificuldade em fazê-lo pela carência de profissionais com esse conhecimento. Então, documentamos os requisitos e adotamos uma metodologia para gerir o ciclo de desenvolvimento do sistema”, informou.

Para um profissional chegar ao nível de independência no desenvolvimento é preciso pelo menos dois anos de treinamento, qualificação e experiência na programação de sistemas corporativos. Destaca que essa exigência se deve à complexidade dos sistemas e garantia de sua qualidade.  “O tempo todo são realizadas oitivas, termos, autos, cumprimento de ordem de serviços, mandados e, por isso, o sistema tem que ter certas características”, acrescentou, ao citar casos de programas que não prosperaram por não seguir um padrão.

Barcelar esclarece que a Diretoria da PJC demonstra apoio ao setor, embora, nem sempre seja possível atender as demandas solicitadas. Percebe-se que a dificuldade de transferência de servidor para a Fábrica de Software se deve, muitas vezes à dificuldade do gestor enxergar a importância da informatização dos processos que hoje é realizado por meio do Geia. “É preciso compreender que a remoção de um servidor para atender a Fábrica de Software representa mais benefícios à instituição do que prejuízo”, acrescenta Davi Nogueira.

 

“Às vezes indagamos onde profissionais que tem conhecimento na área seriam mais úteis? Desenvolvendo soluções para melhorar o serviço de todos os servidores e da própria diretoria dando celeridade aos procedimentos e entregando dados em tempo real ou exercendo atribuições na delegacia ou muitas vezes exercendo atribuições que não são próprias do seu cargo?

 

Embora a lei não permita tal emprego do servidor policial, o Estado também não provê tais servidores da área meio. É claro que o servidor quando é removido faz muita falta, mas em determinadas circunstâncias seu trabalho na Fábrica de Software otimiza o trabalho de outros. Sistematizando processos é possível que um profissional faça o serviço de três outros”, esclareceu, ao lembrar que em algumas unidades apesar da resistência inicial no momento da implantação, atualmente percebe as facilidades e os benefícios que o sistema trouxe. ”

“Muitos dos serviços manuais acabaram, hoje é possível fazer de forma sistematizada. Diante disso muitos delegados já determinam a implantação do sistema de forma completa. Para se ter uma ideia, 80% das cartas precatórias do estado tramitam dentro do sistema, sem correios, sem papel. É possível ainda comunicar cumprimento de mandados de prisão sem a necessidade de enviar e-mail ou ofício a Gepol, fazendo tudo pelo sistema. E, mesmo em meio a toda essa correria, a Fábrica de Software pensa um projeto para acabar com as segundas vias de documentos, resultando numa economia gigantesca”, informou Barcelar, ao ressaltar que essa economia poderá ser investida na capacitação e aquisição de equipamentos para a Fábrica.

Outro grande avanço é que diferente de outros estados que pagam altos valores para ter um sistema, o Geia não tem custo nenhum ao governo de Mato Grosso. “Nosso sistema foi construído a várias mãos, somos uma equipe engajada, mas que precisa da atenção para melhorar as condições de trabalho, de efetivo e de salários”, concluiu, ao destacar que a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa - DHPP foi a primeira a implantar 100% o Geia.

 

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